No dia 9 de novembro, o Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre (COA-POA) realizou sua última reunião mensal do ano. Como de costume, o encontro aconteceu no Jardim Botânico de Porto Alegre e contou com as atividades tradicionais: uma observação de aves no início da manhã e, em seguida, uma palestra sobre ornitologia. Esta reunião foi realizada em uma data importante para a observação de aves em todo o Brasil, pois o dia 9 de novembro marca o aniversário de fundação do primeiro Clube de Observadores de Aves (COA) do país, criado em 1974, durante um curso de observação de aves ministrado por Flávio Silva, com o apoio de Walter A. Voss. Nesta mesma data, o COA-POA também celebra seu aniversário, pois em 2009 o primeiro COA foi reorganizado e passou a se chamar COA-POA. Dessa forma, a reunião deste sábado comemorou o cinquentenário do primeiro COA no Brasil e os 15 anos de história do COA-POA desde sua reativação. Confira abaixo um breve relato de cada atividade realizada durante a reunião mensal.
Observação de aves
A atividade de observação começou por volta das 8h20, com a participação de sete pessoas. O clima estava um pouco frio, em torno de 20°C, e o céu estava encoberto por nuvens. Algumas das nuvens eram “pesadas”, prenunciando o que aguardava os observadores mais tarde: chuva. A observação foi conduzida por Antônio Brum, atual presidente do clube. O grupo iniciou a atividade na área aberta, de campo, do Jardim Botânico, alusiva às formações campestres do estado.
Já no campo, mas ainda próximos ao estacionamento, o grupo iniciou a observação com um belo cardeal (Paroaria coronata), que, no topo dos galhos de uma árvore, exibiu-se graciosamente para os observadores. Nesse mesmo local, podia-se ouvir uma encantadora sinfonia composta por diferentes aves: ora marcada pelo canto incessante e eloquente do pitiguari (Cyclarhis gujanensis), ora pelo dueto do joão-de-barro (Furnarius rufus), ou ainda o inconfundível canto do bem-te-vi (Pitangus sulphuratus).
O grupo avançou alguns metros até avistar uma saracura-do-mato (Aramides saracura) forrageando na grama ao lado de um chupim (Molothrus bonariensis). Nesse momento, o grupo parou para observar, enquanto Antônio aproveitou a ocasião para explicar as diferenças de dimorfismo entre o macho e a fêmea do chupim. Continuando com a observação, o grupo se encantou ao ver um sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) se alimentando dos frutos de uma árvore. Logo após, começou um leve chuvisco, que, aos poucos, se intensificou em uma garoa forte, forçando todos a buscar abrigo sob uma árvore.
Apesar da chuva, a observação não parou, agora de baixo da árvore, os observadores continuaram dando atenção as aves, que até se mostraram mais ativas. Foi possível, embaixo da árvore, escutar um mosaico de cantos, composto, principalmente, por: guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster), caturritas (Myiopsitta monachus), bem-te-vi, sabiá-barranco (Turdus leucomelas), suiriri (Tyrannus melancholicus), mariquita (Setophaga pitiayumi) e pitiguari.
A chuva deu uma trégua por volta das 08h40 e, então, os observadores seguiram o caminho. Antônio optou por, ao invés de realizar o tradicional caminho pelo lago em direção à entrada do Jardim Botânico, permanecermos na parte aberta de campo e contorná-lo. Assim que o grupo retomou a caminhada, foi possível observar um bem-te-vi carregando material para o ninho; também foi possível observar dois filhotes de sabiá-poca (Turdus amaurochalinus) recém saídos do ninho e escutar, de longe, o canto da choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens).
Durante a caminhada pelo campo algumas espécies puderam ser observadas, como o caso do cardeal, do pica-pau-do-campo (Colaptes campestres), quero-quero (Vanellus chilensis) e um carcará (Caracara Plancus) sobrevoando o campo. Em uma moita, formada por algumas árvore e arbustos, o grupo conseguiu observar um indivíduo de risadinha (Camptostoma obsoletum), escutar uma pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro) e ainda um pitiguari.
Mais adiante o grupo escutou um fim-fim (Euphonia chlorotica), trinca-ferro (Saltator similis) observou um casal de besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus), uma avonte (Zenaida auriculata), urubu-preto (Coragyps atratus), andorinhão-do-temporal (Chaetura meridionalis), chupins, aracuã-escamoso (Ortalis squamata) e ainda uma guaracava-de-barriga-amarela. A observação terminou por volta das 09:25 e contou, ao todo, com 39 espécies observadas durante a observação.
Leitura das Espécies
Com o fim da atividade de observação, o grupo seguiu para a escolinha do jardim botânico para dar continuidade às atividades previstas. Por volta das 09h53, Antônio Brum deu prosseguimento à reunião, convidando Inês Vasconcelos para comentar sobre as espécies recém-observadas. Após uma breve conversa sobre a observação, Antônio destacou a importância da data: dia 9, marco da fundação do primeiro Clube de Observadores de Aves (COA) do Brasil e, como consequência, do precursor do COA-POA. Após essas conversas iniciais, também destacando tratar-se da última reunião mensal do clube no ano, Antônio prosseguiu com sua apresentação.
Palestra “Do Jurássico ao Holoceno: A Evolução das Aves” por Antônio Brum
Dando continuidade à reunião, Antônio começou a sua palestra sobre a evolução das aves. Inicialmente, destacou conceitos básicos necessários para o entendimento, como a compreensão de um cladograma e das reconstruções filogenéticas. Uma série de registros fósseis de espécies percursoras das atuais aves foram apresentadas, para demonstrar que em cada linhagem uma característica surgiu e se tornou marcante, como o surgimento das penas. Antônio de modo geral apresentou de forma muito didática a evolução que deu origem as atuais aves que conhecemos. A palestra terminou perto das 11:30 e assim, encerramos mais um ano de atividades do Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre.