No dia 15 de setembro, o Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre (COA-POA) realizou sua reunião mensal junto à programação da comemoração do 66º aniversário do Jardim Botânico de Porto Alegre. A reunião, que tradicionalmente acontece aos sábados, ocorreu no domingo e contou com uma programação distinta do habitual. Diferente das outras reuniões, o clube preparou uma exposição interativa sobre as aves, além de realizar uma oficina de observação de aves e ofertar a palestra intitulada “Princípios da Observação de Aves”, ministrada por Augusto Pötter. Toda essa programação especial ocorreu durante a manhã e a tarde do dia 15. Abaixo, confira um breve relato cronológico de como aconteceram as atividades de comemoração do aniversário do Jardim Botânico de Porto Alegre.
Observação de Aves
Por volta das 08:11, um grupo de 11 observadores, guiados por Augusto Pötter, partiu em direção à parte aberta de campo do Jardim Botânico. Lá, o grupo pôde observar algumas espécies de aves forrageando na grama, como um casal de chupim (Molothrus bonariensis), um sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e um grupo de tapicurus (Phimosus infuscatus). Os observadores também puderam escutar uma diversidade de cantos de aves, como a corruíra (Troglodytes musculus), a juriti-pupu (Leptotila verreauxi), a choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens) e o característico canto do bem-te-vi (Pitangus sulphuratus). Algumas espécies apenas sobrevoaram o local, como aconteceu com a pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro). Augusto Pötter, o guia da observação, aproveitou para explicar ao grupo algumas curiosidades sobre o chupim, como a propriedade de iridescência das penas e também seu comportamento de parasitismo em ninhos de outras aves.
Após a observação na parte aberta, o grupo se dirigiu à ponte do lago superior. Mais pessoas interessadas na atividade foram chegando, e agora o grupo de observadores já contava com 16 participantes. Durante a travessia da ponte, foi possível observar um casal de saracura-do-mato (Aramides saracura) e escutar o canto onomatopeico da juriti-pupu. Augusto comentou com o grupo quais são as diferenças morfológicas entre as espécies de saracuras que ocorrem em Porto Alegre e aproveitou para falar sobre a migração do tuque-pium (Elaenia parvirostris), já que o mesmo estava pousado no alto de uma árvore.
Na saída da ponte, enquanto o grupo se dirigia à estrada principal do Jardim Botânico, foi possível escutar o canto de algumas espécies: saracura-sanã (Pardirallus nigricans), tuque-pium (Elaenia parvirostris), saracura-do-mato (Aramides saracura), risadinha (Camptostoma obsoletum), sabiá-poca (Turdus amaurochalinus), sabiá-barranco (Turdus leucomelas) e também a choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens). Além de escutar uma diversidade de cantos, foi possível observar uma alma-de-gato (Piaya cayana) pulando entre os galhos das árvores. Augusto comentou com o grupo que a alma-de-gato é uma espécie de cuco, pertencente à família cuculídea.
O grupo então, após escutar uma diversidade de aves na saída do lago, se dirigiu ao lago da entrada do Jardim Botânico. Na entrada, foi possível escutar outro mosaico de cantos. Dessa vez, os observadores escutaram diversos trinca-ferros (Saltator similis), um pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros), um pula-pula (Basileuterus culicivorus) e um casal de alma-de-gato. Além da observação sonora, o grupo conseguiu observar um tapicuru em voo com um galho no bico, e também um bando de caturritas (Myiopsitta monachus) passando voando. Finalizada a observação no lago, Augusto dirigiu o grupo para a trilha da mata atlântica.
No começo da trilha, um amontoado de penas chamou a atenção de todos. Na ocasião, Augusto interpretou como uma possível predação por gatos, já que, infelizmente, é comum encontrar felinos errantes dentro do Jardim Botânico. Augusto aproveitou para conscientizar o grupo sobre os danos causados pelos animais domésticos abandonados e de vida livre à fauna local. Seguindo o trajeto da trilha, foi possível escutar um piá-cobra (Pheugopedius genibarbis), pitiguari (Cyclarhis gujanensis), pica-pau-verde-carijó (Colaptes melanochloros), falcão-carrapateiro (Milvago chimachima), quete-do-sul (Thraupis sayaca) e também um bico-chato-de-orelha-preta (Tolmomyias sulphurescens). Ao final da trilha, usando como exemplo a experiência recém-vivida, Augusto explicou ao grupo que muitas vezes a observação de aves é apenas auditiva, especialmente quando a observação acontece em uma mata fechada, como no caso da trilha da mata atlântica do Jardim Botânico.
A observação terminou, e o grupo conseguiu observar 34 espécies de aves. Confira abaixo a lista completa dos avistamentos.
Palestra: Princípios da Observação de Aves
Após a observação de aves, o Clube seguiu com o cronograma especial para a comemoração do 66º aniversário do Jardim Botânico de Porto Alegre. Para isso, uma palestra especial intitulada “Princípios da Observação de Aves” foi ministrada por Augusto Pötter, com o intuito de atrair novas pessoas interessadas na prática da observação e também conscientizar sobre os princípios e normas a serem seguidos na atividade. A apresentação contou com a participação de 21 ouvintes.
Augusto Pötter começou explicando de forma simples o que são as aves, destacando que o grupo é diverso e se encontra em todos os cantos do planeta, sendo considerado cosmopolita. Augusto enfatizou que isso favorece a observação, tornando praticamente possível praticá-la a qualquer momento e em qualquer lugar do mundo. Ele também comentou que observar aves é uma maneira de apreciar a beleza delas e de se conectar com a natureza, seja utilizando binóculo, câmera fotográfica, caderneta ou até mesmo desenhando as aves, enfatizando as múltiplas maneiras de realizar a prática.
Outro ponto bastante explorado por Augusto foi as implicações éticas e os princípios necessários durante uma observação de aves, seja sozinho ou em grupo. A importância de manter, acima de tudo, o respeito pelas aves é fundamental, assim como a conscientização sobre as condutas necessárias a um observador. O uso de playback deve ser moderado; para ilustrar, Augusto trouxe exemplos conhecidos de observadores inexperientes que, adotando más práticas, levaram à morte de aves ameaçadas de extinção pelo simples mau uso do playback.
Um tópico também abordado foi sobre as vestimentas e itens essenciais para uma observação na natureza. Roupas camufladas e discretas, assim como calçados fechados e confortáveis, são itens importantíssimos para uma boa observação. Por fim, Augusto explicou como identificar uma ave. Para isso, ele abordou, utilizando exemplos, a importância de prestar atenção no tamanho, na silhueta, nas proporções corporais, bem como no tamanho, formato e coloração do bico da ave que estamos observando, para então compararmos com o que imaginamos ser. Assim, conseguimos uma possível identificação da ave observada.
Exposição Interativa Sobre as Aves
Também como parte da programação de comemoração do aniversário do Jardim Botânico, o Clube expôs, durante a manhã e tarde de domingo, uma exposição interativa sobre as aves. A exposição contou com cartazes, banners e até aves taxidermizadas, ilustrando a rica avifauna encontrada no estado do Rio Grande do Sul. Ao longo de toda a manhã e tarde, diversas pessoas curiosas visitaram o estande do clube para ver e aprender sobre o fascinante mundo da ornitologia. Confira abaixo algumas fotos ilustrando a exposição interativa. Fotos de autoria de Eduardo Korkiewicz.
Oficina de Observação de Aves
Após a palestra de Augusto Pötter, os ouvintes foram convidados a participar de uma oficina de observação de aves. O objetivo foi justamente colocar em prática os ensinamentos da palestra. A oficina começou às 11 horas, no campo do Jardim Botânico, e contou, ao todo, com a incrível participação de 30 pessoas. A trajetória da oficina foi semelhante ao percurso realizado na observação de aves no início da manhã. As aves observadas também não diferiram tanto em relação à primeira observação. Vale destacar os avistamentos de alma-de-gato, corruíra, tapicuru, andorinhão-do-temporal, pitiguari, saracura-do-mato, choca-da-mata, saracura-três-potes e o carrapateiro. Ao todo, foram observadas 27 espécies. Confira fotos da oficina e também a lista completa dos avistamentos.
Texto escrito por Eduardo Rigodanzo Korkiewicz