Na manhã do dia 28 de setembro de 2024, o Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre (COA-POA) realizou uma oficina de observação de aves (Passaripoa), ministrada pelo jovem ornitólogo Augusto Pötter, em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre (SMAMUS). A iniciativa faz parte das ações do núcleo de educação ambiental do clube, que visam tornar a prática de observação de aves cada vez mais acessível na cidade de Porto Alegre. Abaixo, confira um breve relato de como foi a oficina de observação de aves.
O dia estava ensolarado, com poucas nuvens e uma temperatura amena, por volta de 24 graus Celsius. A oficina contou, ao todo, com 14 participantes. A atividade começou por volta das 9:00 horas e terminou perto das 11:30. Os participantes andaram por todo o Anfiteatro Pôr do Sol, percorrendo a margem do lago Guaíba. Augusto Pötter foi quem guiou os observadores e ministrou a oficina, sempre detalhando características e curiosidades sobre as aves avistadas durante o trajeto.
O grupo inicialmente partiu da parte aberta do Anfiteatro em direção à primeira entrada que dá acesso às margens do lago Guaíba, na direção de quem vem do centro histórico em direção à zona sul pela Avenida Edvaldo Pereira Paiva. Durante essa caminhada, foi possível observar e escutar algumas aves, como o quero-quero (Vanellus chilensis), a caturrita (Myiopsitta monachus), a guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster), a andorinha-do-campo (Progne tapera) e o sabiá-do-campo (Mimus saturninus). Nesse primeiro momento, Augusto aproveitou para se apresentar e comentar um pouco sobre essas aves ao nosso redor. Além disso, ele passou algumas orientações para a observação em grupo, destacando a importância de manter a coesão do grupo para uma boa prática de observação.
Seguindo o caminho, Augusto avistou uma avoante (Zenaida auriculata), o que o levou a comentar com o grupo sobre o aumento e a distribuição da população de avoantes em Porto Alegre. Segundo Augusto, há décadas, a pomba mais comum na cidade era a rolinha-roxa, que hoje quase não é mais avistada em parques e praças. Em contraste, a avoante se tornou uma das pombas mais comuns, sugerindo que ela está ocupando o nicho da rolinha-roxa (Columbina talpacoti), restringindo sua população. Augusto também explicou a diferença entre nome comum e nome científico, destacando que, em outras partes do país e até mesmo do estado, é frequente que o nome comum de uma ave seja totalmente diferente do adotado em Porto Alegre.
Ainda nas explicações, Augusto utilizou o Guia de Identificação de Aves do Rio Grande do Sul para mostrar as espécies de psitacídeos que ocorrem em Porto Alegre e comentou sobre o crescente e preocupante aumento da população do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), uma espécie exótica introduzida pela soltura de aves criadas em gaiolas. Essa espécie tem ampliado cada vez mais sua distribuição e população na região metropolitana de Porto Alegre. A explicação de Augusto foi interrompida pela linda aparição de um chimango (Milvago chimango), que passou perto dos observadores em um voo rasante, permitindo que todos o observassem e fotografassem. Imediatamente, um quero-quero, na presença do chimango, começou a persegui-lo e perturbá-lo, um comportamento comum entre muitas aves diante de um predador, conhecido como “mobing” ou tumultuar em português. Esse comportamento é utilizado para distrair o potencial predador.
Cada aparição de uma ave levava Augusto a fazer alguma explicação, e com o chimango não foi diferente. Ele aproveitou para comentar sobre as aves de rapina que ocorrem na cidade. Incrivelmente, durante sua explicação, um carrapateiro (Milvago chimachima) também sobrevoou o grupo de observadores, fazendo com que todos se voltassem para observar a ave. Nesse momento, uma linda sinfonia do canto de saracuras-do-mato (Aramides saracura) podia ser ouvida ao fundo, vindo da direção da mata ciliar às margens do lago Guaíba.
Após essas primeiras observações, o grupo chegou ao início da margem do lago Guaíba. Agora, em vez de campo aberto, eles se encontravam em um ambiente de mata ciliar, com a presença constante de aves aquáticas. A observação foi diferente, destacando aves com comportamentos distintos das que o grupo havia visto no campo, como os tapicurus (Phimosus infuscatus), o socó-dorminhoco (Nycticorax nycticorax) e a garça-branca-grande (Ardea alba). A mata ciliar também permitiu escutar novas espécies, como o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), a juriti-pupu (Leptotila verreauxi) e o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris).
O grupo seguiu caminhando sempre margeando o lago, até que Augusto, aproveitando a presença de um joão-de-barro, parou para explicar sobre a construção dos ninhos da espécie. Ele comentou que, todo ano, mesmo que o casal já tenha construído na época reprodutiva anterior, eles fazem um ninho totalmente novo a cada ciclo. Por esse motivo, é comum ver ninhos “abandonados” sendo ocupados por outras espécies.
Continuando a caminhada, foi possível observar, muito acima dos observadores, utilizando uma térmica, seis gaviões-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis), já nas árvores, um casal de alma-de-gato (Piaya cayana), vários biguás (Nannopterum brasilianum), um cardeal (Paroaria coronata) e ainda um pica-pau-do-campo (Colaptes campestres).
Ao se aproximar do final do percurso, três fatos inusitados aconteceram. O primeiro foi o raríssimo avistamento de uma lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta), uma ave que até então só tinha um único registro no WikiAves para Porto Alegre, datado de 2019. O segundo encontro inusitado foi o de uma tachã utilizando uma térmica a dezenas de metros de altura. E, por fim, a aparição de uma capivara, uma espécie que perdeu totalmente seu habitat natural nas margens do lago Guaíba e arroios da cidade devido à urbanização desenfreada.
A observação terminou com 45 espécies avistadas, com destaque superespecial para a lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta). Augusto convidou todos a participarem de uma dinâmica em que comentariam qual ave mais chamou a atenção durante a observação. Quem melhor descrevesse ganharia um miniguia das aves de Porto Alegre. O COA-POA agradece a parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo de Porto Alegre (Smamus) e enaltece o brilhante jovem Augusto Pötter por tornar a ornitologia acessível a todos. Confira abaixo uma lista completa das aves observadas durante a oficina.
Texto escrito por Eduardo Rigodanzo Korkiewicz