“No feriado de Tiradentes, convidei os amigos do COA-POA para tentar algumas fotos no Jardim Botânico de Porto Alegre. Em função do mau tempo no dia anterior, não consegui adeptos e então acabei indo sozinho.
Ao chegar, o ambiente estava realmente bem silencioso, por não se tratar de uma época propícia para a fotografia e observação de aves.
No entanto, após alguns minutos de caminhada e algumas avistagens pouco interessantes, eis que surge da mata, e pousa relativamente perto de mim, uma espécie que jamais sonhara encontrar ali. Aliás, uma espécie que sequer eu tinha observado até então.
Estou me referindo ao pavó (Pyroderus scutatus), uma ave grande e imponente, de beleza incontestável mas que, tecnicamente, não deveria estar ali.
Mesmo com os mais de 10 anos atrás das lentes fotografando aves, fiquei muito nervoso e levou alguns segundos para que eu recobrasse a razão após tamanha surpresa.
Em situações normais, para conseguir uma foto perfeita, teria tentado uma aproximação maior, ou ao menos me mover para conseguir uma visada mais direta (sem interferência da vegetação), mesmo sabendo do risco de espantar a ave e não conseguir foto alguma.
Entretanto, sabendo que o registro deveria ter alguma importância científica, deixei a ganância fotográfica de lado e fiz o melhor que pude dentro das circunstâncias que aquela oportunidade me concedeu.
Imediatamente após o registro comecei a mandar mensagens para os outros diretores do clube, que confirmaram que o registro foi realmente inusitado.”
Recentemente, a espécie foi observada também na área do Polo Petroquímico, em Triunfo, e no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, entre outros locais. Para Glayson, essas aparições isoladas de pavós ao longo dos últimos anos são um indício de que a espécie está se recuperando, após ter sido praticamente extinta na maior parte do Rio Grande do Sul, exceto nas grandes reservas florestais do extremo norte.
— Mas é provável que áreas urbanas funcionem mais como sumidouros para a espécie, ou seja, locais onde as aves ficam expostas a altos riscos e acabam sucumbindo. Porém, pequenas áreas de mata na zona rural podem favorecer a dispersão, servindo como trampolins — ressalta o ornitólogo.