Relatos dos associados

Parque Estadual do Espinilho

Visitando o Parque Estadual do Espinilho, Barra do Quaraí, RS

Por Kleber Pinto Antunes de Oliveira e Jorge Correia Souza Neto

 

No dia 14 de fevereiro de 2014, visitamos o Parque Estadual do Espinilho, em Barra do Quaraí, Rio Grande do Sul. O parque possui área de 1.617 hectares. Barra do Quaraí fica distante de Porto Alegre 700 quilômetros e possui cerca de 4 mil habitantes. Estávamos acompanhados por Ricardo Oliveira de Oliveira (primo de Kleber), residente em Uruguaiana e profundo conhecedor da região, inclusive do Parque Estadual do Espinilho. A visita fez parte de uma viagem de quatro dias até Uruguaiana e Barra do Quaraí, com um total de 11 locais visitados (incluindo dois em Barra do Quaraí e nove em Uruguaiana). Observamos ao todo 126 espécies de aves durante a viagem.


Localização do município de Barra do Quaraí, RS (Fonte: Wikipedia).

 

O tipo de vegetação ocorrente no parque (savana-estepe), em todo o território brasileiro, só ocorre nessa região do extremo oeste do Rio Grande do Sul. Quanto à flora do parque, destacam-se três espécies: algarrobo (Prosopis nigra), espinilho (Vachellia caven) e inhanduvaí (Prosopis affinis). Uma parte do parque que não visitamos possui matas ciliares, contendo um trecho do Arroio Quaraí-Chico até o local onde este desemboca no rio Uruguai. A temperatura média anual no município oscila entre 20 e 23°C. 


Aspecto da vegetação na parte do Parque Estadual do Espinilho que visitamos. (Foto de Kleber Pinto Antunes de Oliveira)


Parque Estadual do Espinilho, Barra do Quaraí, RS (foto de Kleber P. A. de Oliveira)



Parque Estadual do Espinilho, Barra do Quaraí, RS (foto de Kleber P. A. de Oliveira)

No turno da manhã permanecemos no parque entre 9:50h e 12h. No turno da tarde, entre 15:15h e 20:15h. Totalizamos, assim, 7 horas e 10 minutos de observações de aves. Após o almoço, antes de regressarmos ao parque, efetuamos observações em uma localidade de Barra do Quaraí denominada Pai Passo. O dia foi, nos dois turnos, extremamente ventoso.

Entre as espécies de aves observadas no parque, destaque principalmente para o cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), severamente ameaçado de extinção, e o tio-tio-pequeno (Phacellodomus sibilatrix), registrada apenas recentemente no Brasil, e que tivemos a felicidade de encontrar (no link http://www.wikiaves.com/1270440&t=s&s=11946 há fotografias que batemos no Parque Estadual do Espinilho).

 Só conseguimos avistar os primeiros exemplares de cardeal-amarelo um pouco antes das 18 h (horário de verão). Entre as primeiras espécies que avistamos pela manhã estão o arapaçu-platino, ou arapaçu-do-espinilho, e o príncipe.


Arapaçu-do-espinilho (ou platino), Drymornis bridgesii. Foto gentilmente cedida pela grande amiga Gina Bellagamba.


Príncipe, Pyrocephalus rubinus. Foto gentilmente cedida por G. Bellagamba


Cardeal-amarelo, Gubernatrix cristata, em meio à relva. Foto de Edwin E. Harvey (Clickr).

 

A seguir apresentamos uma lista de 36 espécies de aves observadas no Parque Estadual do Espinilho. Ao redor de 12 a 14 espécies adicionais também foram registradas no parque mas não foram incluídas na lista, pelo fato de já terem sido avistadas no trajeto entre o centro de Uruguaiana e a sede do Parque Estadual do Espinilho, em Barra do Quaraí. Assim, o total de espécies observadas foi de aproximadamente 50.

Lista das espécies de aves observadas no Parque Estadual do Espinilho, Barra do Quaraí, em fevereiro de 2014.

             FAMÍLIAS

          NOME CIENTÍFICO

          NOME POPULAR

Tyrannidae

 

 

 

Pyrocephalus rubinus

Príncipe

 

Serpophaga griseicapilla

Alegrinho-trinador

 

Suiriri suiriri

Suiriri-cinzento

 

Griseotyrannus aurantiocristatus

Peitica-de-chapéu-preto

 

Machetornis rixosa

Suiriri-cavaleiro

Caprimulgidae

 

 

 

Chordeiles nacunda

Corucão

Columbidae

 

 

 

Patagioenas maculosa

Pomba-do-orvalho

 

Columbina picui

Rolinha-picuí

 

Columbina talpacoti

Rolinha-roxa

 

Zenaida auriculata

Pomba-de-bando

 

Leptotila verreauxi

Juriti-pupu

 

Patagioenas picazuro

Asa-branca ou pombão

Cuculidae

 

 

 

Guira guira

Anu-branco

Furnariidae

 

 

 

Furnarius rufus

João-de-barro

 

Pseudoseisura lophotes

Coperete

 

Coryphistera alaudina

Corredor-crestudo

 

Asthenes baeri

Lenheiro

 

Phacellodomus sibilatrix

Tio-tio-pequeno

Dendrocolaptidae

 

 

 

Drymornis bridgesii

Arapaçu-do-espinilho

Emberizidae

 

 

 

Gubernatrix cristata

Cardeal-amarelo

 

Zonotrichia capensis

Tico-tico

 

Ammodramus humeralis

Tico-tico-do-campo

 

Sporophila hypochroma

Caboclinho-de-sobre-ferrugem

Trochilidae

 

 

 

Chlorostilbon lucidus

Besourinho-do-bico-vermelho

 

Heliomaster furcifer

Bico-reto-azul

Psittacidae

 

 

 

Myopsitta monachus

Caturrita

Acciptridae

 

 

 

Heterospizias meridionalis

Gavião-caboclo

 

Circus cinereus

Gavião-cinza

Thraupidae

 

 

 

Paroaria coronata

Cardeal

 

Saltator aurantiirostris

Bico-duro

Falconidae

 

 

 

Falco sparverius

Quiriquiri

Mimidae

 

 

 

Mimus saturninus

Sabiá-do-campo

Picidae

 

 

 

Colaptes campestris

Pica-pau-do-campo

Charadriidae

 

 

 

Vanellus chilensis

Quero-quero

Hirundinidae

 

 

 

Pygochelidon cyanoleuca

Andorinha-pequena-de-casa

 

Progne tapera

Andorinha-do-campo

 

ORIGEM DA VEGETAÇÃO DO PARQUE

O estudo das influências paleoclimáticas do quaternário reforçam a hipótese de pesquisadores mais antigos de que a flora do Parque Estadual do Espinilho tem sua origem nas invasões de leguminosas arbóreas do Parque Mesopotâmico argentino, por ocasião de uma fase climática mais seca. Nesse período supõe-se que as condições ecológicas eram similares às daqueles ambientes, no território argentino. A permanência desse tipo de vegetação na área também pode ser explicada pela pronunciada variabilidade térmica e pluviométrica dada pela continentalidade da Campanha rio-grandense, que levam a intensa evaporação em certas épocas. Para garantir a perpetuação das espécies, as leguminosas arbóreas do parque apresentam estruturas vegetais como folhas pequenas, caducifólias, espinhos e troncos revestidos por casca grossa. Essas adaptações se destinam a reduzir a superfície de transpiração e diminuir a perda de água, compensando, portanto, a inconstância da precipitação aliada a uma intensa evaporação.

 

RÁPIDA DESCRIÇÃO DA MASTOFAUNA

No parque ocorrem algumas espécies de mamíferos extintos ou muito raros em outras áreas do Rio Grande do Sul. Exemplos dos carnívoros incluem o gato-do-mato-grande, gato-palheiro, lontra e duas espécies de cervídeos (veado-campeiro e veado-virá). Há capivaras, ratão-do-banhado, preás, paca e zorrilho. Há também três espécies de tatus, graxains, mão-pelada, gambás e furão. É provável a ocorrência da jaguatirica. Duas espécies exóticas de mamíferos ocorrem na área do parque e arredores, a lebre europeia e o cervo axis asiático, oriundo de terras uruguaias.


Cervo axis (chital), espécie exótica

 


Lontras no Parque Estadual do Espinilho (foto de Renato Rizzaro, renatorizzaro.blogspot.com.br/2013/12/da-lagoa-do-peixe-ao-parque-do-espinilho.html

Quanto à fauna de morcegos, ainda não foi inventariada, mas há no Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul um crânio coletado de um exemplar de Molossops temminckii (Molossidae), morcego insetívoro, coletado no Parque Estadual do Espinilho. Provavelmente deva ser uma quiropterofauna semelhante à de Uruguaiana, onde Kleber já fez inventários dessa natureza e onde foram constatadas ao redor de 14 espécies de Chiroptera.

Kleber Pinto Antunes de Oliveira, Biólogo e Zoólogo, kleber.pinto@terra.com.br                                                       

Jorge Correia Souza Neto, Farmacêutico, jorgecorreiasn@gmail.com

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