Reuniões

Relato Reunião Mensal do Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre (COA-POA) 03 de agosto de 2024

Na manhã de 3 de agosto de 2024, o Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre (COA-POA) realizou sua tradicional reunião mensal. O encontro, que mais uma vez ocorreu no Jardim Botânico de Porto Alegre incluiu as atividades habituais: observação de aves e uma palestra. Ao todo, 19 pessoas participaram das atividades do clube. A seguir, confira um breve relato de tudo o que aconteceu durante a reunião.

Observação de Aves

O dia estava predominantemente ensolarado, com pouco vento e um céu quase sem nuvens. Às 8 horas da manhã, a temperatura já marcava cerca de 18º Celsius, considerada alta para o inverno em Porto Alegre. Ao meio-dia, os termômetros já registravam cerca de 30º, caracterizando um típico dia de “veranico” em pleno inverno no sul do Brasil. A atividade de observação foi conduzida por Augusto Potter, atual coordenador do núcleo de educação ambiental do clube. O grupo, composto por 16 observadores, partiu do estacionamento do Jardim Botânico às 8h21 para iniciar a observação das aves.

Ao sair do estacionamento do Jardim Botânico, o grupo se dirigiu à área aberta, um campo que remete às formações campestres típicas do Rio Grande do Sul. No início da caminhada, os observadores foram recebidos pela bela melodia do canto de uma corruíra Troglodytes musculus. A pequena ave, pousada no alto de uma árvore, emitia seu canto característico de forma vibrante, capturando a atenção de todos os observadores. Aproveitando o momento, Augusto Potter explicou ao grupo sobre a plasticidade do canto da corruíra. Segundo ele, essa espécie possui uma grande variação na composição de seu canto, o que pode levar observadores inexperientes a confundi-la com outras aves.

Augusto Potter explicando sobre a plasticidade no canto da corruíra.
Fotografia de Eduardo Korkiewicz

Após a explicação, o grupo continuou a caminhada pelo campo. Durante o trajeto, uma saracura-do-mato Aramides saracura que forrageava entre as gramas chamou a atenção dos observadores. Augusto aproveitou a oportunidade para explicar, com o auxílio do guia das Aves do Rio Grande do Sul, as diferenças morfológicas entre as espécies de saracuras presentes no Estado. O grupo passou alguns momentos observando e fotografando a saracura, que, já habituada ao movimento das pessoas no Jardim Botânico, permaneceu a uma distância bastante próxima dos observadores.

Saracura-do-mato forrageando na grama.
Fotografia de Ines Vasconcelos

Durante o trajeto, o grupo avistou outras aves, incluindo três pombas-asa-branca Patagioenas picazuro, um bem-te-vi Pitangus sulphuratus, um sanhaço-cinzento Thraupis sayaca e um sabiá-laranjeira Turdus rufiventris. Ainda na área aberta do campo, foi possível avistar rapidamente um pica-pau-verde-barrado Colaptes melanochloros, que voou de uma árvore próxima enquanto vocalizava.

Grupo de observadores fotografando indivíduos de pomba-asa-branca. Fotografia de Eduardo Korkiewicz

Após a observação do campo, o grupo seguiu em direção à ponte do lago superior do Jardim Botânico. Durante a travessia, ouviram o canto de outras aves, como pitiguari Cyclarhis gujanensis, mariquita Setophaga pitiayumi, risadinha Camptostoma obsoletum e fim-fim Euphonia chlorotica, embora sem conseguir visualizá-las. Mais adiante, foi possível ouvir alma-de-gato Piaya cayana e trinca-ferro Saltator similis. A observação permaneceu predominantemente auditiva até próximo à entrada do museu, onde, para surpresa do grupo, um pitiguari Cyclarhis gujanensis estava pousado no topo de uma árvore, emitindo seu canto característico. Essa foi uma observação inesperada, já que o pitiguari costuma ser difícil de ser visto. Além disso, foi possível observar uma corruíra Troglodytes musculus, desta vez pousada entre as folhas do topo de um butiá.

Travessia da ponte do lago superior no Jardim Botânico.
Fotografia de Eduardo Korkiewicz
Momento de observação da corruíra no alto do butiá.
Fotografia de Eduardo Korkiewicz

O grupo então se deslocou para a parte de baixo do jardim botânico, fazendo observações de aves no lago da entrada. No lago, o grupo contornou todas as imediações, observando por um longo período um grupo de tapicuru Phimosus infuscatus. Enquanto os tapicurus forrageavam na grama úmida e enlameada um beija-flor-preto Florisuga fusca foi avistado pousado no topo de uma árvore. Os observadores então, decidiram ficar um bom tempo parados esperando na frente das árvores mulungus, uma árvore intensamente florida com uma flor vermelha que atrai muitas espécies de beija-flores, na tentativa de observarem o beija-flor-preto. Porém, passados alguns minutos, nada do beija-flor se mostrar. O grupo então seguiu em direção a trilha da mata atlântica, durante a caminhada da trilha foi possível escutar algumas espécies, como o tororó Poecilotriccus plumbeiceps, pula-pula-assobiador Myiothlypis leucoblephara, pula-pula Basileuterus culicivorus, pitiguari Cyclarhis gujanensis e alma-de-gato Piaya cayana.

Lago da entrada do Jardim Botânico
Fotografia de Eduardo Korkiewicz
Momento de observação do beija-flor-preto.
Fotografia de Eduardo Korkiewicz
Beija-flor-preto.
Fotografia de Ines Vasconcelos
Grupo de tapicuru forrageando na grama.
Fotografia de Ines Vasconcelos

A observação de aves terminou por volta das 09:30 no estacionamento do Jardim Botânico, foram 36 espécies de aves observadas e ao todo 16 participantes. Confira abaixo a lista completa das aves observadas durante a observação.

Leitura das espécies

Após a observação, todos se dirigiram à escolinha do Jardim Botânico para dar continuidade às atividades programadas para a reunião. Antes de iniciar a leitura das espécies observadas, Antônio Brum, atual presidente do clube, convidou os novos participantes da reunião a se apresentarem brevemente e compartilharem como conheceram o COA-POA. Depois das breves apresentações, Antônio convidou Lucas Nenes, diretor técnico-científico do clube, para a leitura das espécies avistadas durante a observação de aves. Lucas, por conta do horário já apertado, citou rapidamente as principais observações e seguiu com a programação da reunião.

Apresentação do Breve relato da saída de campo à Estação Experimental Agronômica da UFRGS

Lucas Nenes, diretor técnico-científico do clube, em apresentação sobre a saída à Estação Experimental Agronômica da UFRGS. Fotografia de Eduardo Korkiewicz

Lucas Nenes fez uma breve apresentação sobre a última saída de campo do clube, realizada no dia 20 de julho na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, em Eldorado do Sul, RS. Durante a apresentação, Lucas exibiu uma série de fotos das aves observadas e destacou as principais descobertas, incluindo a descoberta da corruíra-do-campo Cistothorus platensis, uma espécie que até então não havia sido documentada na Estação Experimental Agronômica da UFRGS e nem no município de Eldorado do Sul. Augusto Potter, que também participou da saída de campo, colaborou com a apresentação, compartilhando curiosidades sobre as aves avistadas.

Fotografia da corruíra-do-campo feita durante a saída à Estação Experimental Agronômica da UFRGS. Fotografia de Augusto Potter
Lucas Nenes e Augusto Potter na apresentação da saída de campo.
Fotografia de Eduardo Korkiewicz

Palestra ‘‘Resultados preliminares do rastreamento remoto do maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus) e experiências de campo na Baía de Delaware, EUA”, por Antônio Brum. Parte superior do formulário

Passado a leitura das espécies e a breve apresentação sobre a última saída de campo do clube, Antônio Brum, por volta das 10:40, iniciou a sua apresentação intitulada ‘‘Resultados preliminares do rastreamento remoto do maçarico-de-papo-vermelho Calidris canutus e experiências de campo na Baía de Delaware, EUA”.

Antônio Brum, atual presidente do clube, em sua apresentação sobre Resultados preliminares do rastreamento remoto do maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus)
Fotografia de Eduardo Korkiewicz

Antônio apresentou os resultados e metodologias de sua pesquisa de doutorado pela Unisinos, que estuda a migração do maçarico-de-papo-vermelho Calidris canutus. Essa espécie durante sua migração anual em direção ao hemisfério norte, onde se reproduz,  utiliza o litoral gaúcho como local de parada para descansar e repor as energias de seus longos voos. Antônio está utilizando  transmissores alimentados com energia solar, para rastrear remotamente esta espécie  Calidris canutus e mapear suas rotas migratórias e áreas frequentadas. A partir dos dados coletados, diversas informações sobre o comportamento da espécie foram extraídas. Ao comparar os dados de 2023 com os de 2024, Antônio destacou a influência do peso corporal na escolha da rota migratória. Ele também detalhou a metodologia utilizada para a captura, anilhamento e colocação dos transmissores nos maçaricos.

Antônio Brum, atual presidente do clube, em sua apresentação sobre Resultados preliminares do rastreamento remoto do maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus)
Fotografia de Eduardo Korkiewicz

Maçarico-de-papo-vermelho com rastreador.
Fotografia de Antônio Brum

Além disso, Antônio compartilhou suas experiências na Baía de Delaware, EUA, como parte de seu doutorado. Ele comentou principalmente sobre as observações de aves, ressaltando a diversidade da avifauna local e destacando as principais diferenças nos costumes norte-americanos em relação à observação de aves, além das infraestruturas disponíveis para o birdwatching nos Estados Unidos.

A palestra foi enriquecedora e contou com a participação ativa da maioria dos ouvintes. O COA-POA expressa seu profundo agradecimento pelo conhecimento valioso que Antônio Brum compartilhou na reunião do clube, além de prestigiar todo o seu trabalho de doutorado.

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